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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Poema #1

Eu não ia postar esse poema patético, mas como o Léo quer ser colaborador...

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Poema #1

Nunca fui um bom poeta.
Não sou bom com métrica,
Nem com rima ou estética.

Por isso não martirizo,
A vós com meu delírio.
Apenas peço,
Com digno juízo,
Que não passes batido
Por esse verso
Tão mal escrito.

Roubo, pois, de um amigo
Sem pedir, já aviso,
Seu verso melhor escrito

“Aluga-se um Canto
Vista para o Atlântico
Romântico, Semântico
Lambdas completos
Em ondas de amores Honestos,
Incertos, Repletos"

Em momento incerto,
Talvez até repleto,
Quem sabe honesto,
Ele estará ditoso,
Ou rindo de gozo,
Pelo furto escroto
Deste poeta lastimoso.

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PS: O #1 é meramente ilustrativo, provavelmente será o único.


sábado, 26 de setembro de 2009

Não é ficção, linda.

Levantava escutando Roberto Carlos só por lembrar o Brasil. A rotina era menos apegada com frescuras femininas, amizades superficiais e cheiros novos pra saciar a falta de novidade. Vinte minutos sentindo o quentinho da cama e aquela sensação de mil graus negativos do pescoço pra cima. Com uma mexida geral, tirava o cobertor, corria até o banheiro sentindo o chão frio, e “estava a gritar”: alguém em caaaaaaasa? Não tirava a charmosa camiseta/ vestido por quem viria depois, escovava os dentes pensando “sim, não tem ninguém em casa, sim, sim, sim, sim...”. Cafézinho. E então ouve o barulho do elevador e atravessa o apartamento do banheiro até a porta em segundos.

- Pra onde vamos hoje? - Eu decido?, sou péssima nisso, você sabe. - Mas como eu vou decidir, a extrangeira é você. - Mas quem conhece os lugares é você. - Decidimos na neve.

Já em casa, custo a encontrar alguém tão meu. O ventinho gelado pela fresta da sua janela, o carinho na nuca e o segredo de saber pra onde ele estava me levando. Saio com um conquistador, um maníaco-depressivo, dois nerds e aquele ex-namorado bundão, lógico que loucamente apaixonado pelo fato de não ser mais dele. Todos não sabem demonstrar o que sentem com um gesto. Erro todo meu. Sempre buscando a liberdade daqueles momentos, quando ele tirava minha blusa e eu nem notava. É o total desprendimento de expressão, onde podíamos ficar juntos o quando fosse necessário. E tudo começava na corrida até a porta atravessando o apartamento, pulando e grudando meu quadril no seu, com as duas pernas na sua cintura. E isso não é ficção.

"Na sua varanda sem céu, certa vez, você se sentou naquela cadeira sem fundo. Me colocou no seu colo e me deu o abraço que disparava corações em mim como se eu tivesse um em cada nó de veia. E me disse, com sua voz tão bonita, a mais bonita que eu já ouvi, que eu tinha subido todos os seus andares. Eu entendi que você era o homem da cobertura de aço e eu uma espécie rara de passarinho que tinha algum tipo de chave que se autodestruiria em poucos segundos. E eu entendi também que agora que tinha chegado ali, só me restava pular, já que ninguém aguenta o alto tão alto muito tempo."

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Primavera

Os ramos estão carregados de doces amoras roxas, os cinamomos pintados de lilás com suas pequenas flores e as amendoeiras voltam a exibir suas folhas, aquelas belas folhas largas, amigas de todos os botecos com mesas na rua. Tangerinas cheias de abelhas de zunidos e vibrações, preparando as frutas para a estação, lagartas saindo de seus casulos como borboletas azuis, amarelas ou laranjas, pousando nos jardins, enfeitiçando crianças.
É, a primavera chegou. Chegou, mas ainda não botou os pés para dentro da porta. Nessa nossa linda ilha sem estações definidas, apenas verão e quase-inverno, esse ainda dá adeus com frenéticas rajadas de vento “suli”, que aproximam amantes e esvoaçam cabelos. “A primavera foi adiada por razões de mau tempo” diz meu professor, mas não, ela - como mulher - não se entrega tão facilmente, vai se mostrando aos poucos, revelando-se aos pedaços até a hora derradeira.
A chuva aumenta, mas os dias aquecem e o sol é mais brilhante, chega de abraços e beijos dentro dos carros, agora se pode estender toalhas no gramado para a sesta, esteja você na Universidade ou no Parque do Córrego. Ver o anoitecer na Lagoa da Conceição sem morrer de frio, tomar aquela gelada ao ar livre sem alguém reclamar que “está muito frio para tomar cerveja”. Agraciados, porém, somos nós moradores do continente, que vemos todos os dias a Ponte Hercílio Luz entre as águas brilhantes e o céu azul e branco primaveril.
Mas agora chega de pensamentos estacionais. Tenho que estudar; infelizmente não sou pago para divagar. Quem sabe um dia... Quem sabe...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pregos

Porque sempre é um dia de chuva? Ao menos vai estar vazio, lugar para estacionar e calma para visitar. Faz meses que não o visito, mas a memória ainda está clara. Toda a família reunida, conhecidos, até políticos; ele com sua calma serena e a roupa da ordenação a diácono. Venho de uma família extremamente católica, daquelas que participam de todos os bingos, reuniões paroquiais, pagam o dízimo e tem banco cativo nas missas de domingo. Tenho um tio padre e minha avó sempre tentou me empurrar a profissão, não tenho a vocação, sou muito contestador. É isso, porém, que a Igreja precisa agora, mas já decidi meu caminho.

Passo os portões de aço, estava tudo vazio como esperado. Estaciono o carro o mais próximo possível. Com cuidado com as poças, salto do automóvel e abro o guarda-chuva. Gosto de vir sozinho, apesar da situação, é um bom lugar para meditar - mas se vier no verão, traga repelente, os borrachudos são terríveis. Caminho pelo gramado com cuidado e respeito, procurando pelo lugar certo. As flores de plástico em alguns túmulos dão um ar mais mórbido ao já funesto; as considero piores que as secas. Por mais imóvel que pareça, os pássaros dão vida, se esta expressão for possível, ao ambiente.

Mais alguns metros, estou chegando. Encontro um tio, grande figura pelo que dizem, nunca o conheci direito. Vejo-o somente em fotos amareladas, sempre o reconheço pelo seu vasto bigode. Mas não era ele que vim ver. No lado esquerdo está meu avô. A lápide ainda nova, limpa por minha tia na quarta-feira, e os lírios brancos deixam tudo um pouco mais belo, na medida do possível. Leio o epitáfio, “Dai graças ao Senhor porque Ele é bom, eterna é sua misericórdia”, lema de sua ordenação. Seguro as lágrimas, não quero chorar mais.

Meu avô morreu de câncer no pulmão. Não propriamente do câncer, mas por complicações na cirurgia para sua retirada. Maldito hábito esse de fumar. Uma válvula de escape que parece ótima, mas se torna um pesadelo. Tanto que, apesar da causa do falecimento, o número de cigarros fumados na família só aumentou. Cada cigarro é mais um prego no caixão. Sempre me disseram isso... Ah, a estupidez humana.

Encerro minhas orações, olho mais uma vez o nome de meu avô e despejo a última lágrima. Volto para o carro, mas no caminho acendo um cigarro.

domingo, 13 de setembro de 2009

É ficção, linda.

Talvez tenhamos que esperar alguns anos para nos reencontrar. Tudo bem, eu entendo. A gente se ama até lá. Me espera mesmo? Uhum. Ainda tens aquele gato cinza? Tenho, tenho você também. Me achas frágil? Eu tomo cuidado. Cuida de mim? Esquece aquele dia lá que eu disse que você tem que parar de cuidar mim, cuida? Nem digo isso só pra dizer que te preciso, é mais pelos anos que estão a frente e nos aguardam. Eu te aguardo. Você é lindo, eu amo você. Me fotografa, eu tiro a roupa pra você. Me deseja, eu deixo as vergonhas de lado agora. Olha pra mim. Pega os meus remédios, tá na hora de tomar. Marca minha terapia. Te levo na depilação. Não vou achar alguém tão culto, especial e bonito assim além de você. Ri alto pra mim, me deixa desesperada enquanto estou longe de ti.
Me faz te desejar a cada segundo como se te desejar fosse resolver todos meus problemas, me faz acreditar nisso. Faz parte do meu drama, encena comigo a nossa morte, desesperados, loucos. Fica bêbado comigo pela noite, faz sexo comigo. Me deixa estarrada na cama enquanto buscas o isqueiro, depois de fazermos sexo. Deseja o meu sexo, sem precedentes. Deseja meus seios, põe a boca neles. Deseja minhas mãos, passa elas pelo teu corpo. Me passa pelo teu corpo. Faz amor comigo ainda de roupa, só abre o zíper. Fala bastante depois disso tudo, pois não canso de te ouvir falar. Ri comigo sob o lençol, só com a luzinha no canto acesa, aquele abajur no canto do quarto. Não me deixa. Não te deixo. Me espera? Espero. Te amo. Eu também.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Olhos

Tenho um sentimento não patriótico quando falamos de mulher. A preferência nacional, não é segredo, são as bundas, as divinas bundas tupiniquins. Como todo brasileiro, não nego, reverencio as ancas nacionais, belas formas esculpidas pelos flertes europeu-africanos em quinhentos anos de convivência. Mas a primeira coisa que admiro nessas elegantes criaturas são os olhos. Lindos olhos, azuis, verdes, mel, castanhos, com seus raios únicos de cores amareladas ou escuras, dando vida à monótona monocroma pupilar.

Ainda lembro-me dos olhos de muitas, que há muito não vejo. Os olhos verde-água perdidos em outra cidade, que me exigiam paciência, mas recompensavam com uma das maiores amizades que já tive. Os que sentavam à minha frente no terceiro ano; azuis-claros lindos, perfeitos, como uma lagoa em dia de calmaria. Pouco me importava a dona, nada tínhamos em comum, pero seus olhos traziam uma sensação diferente de beleza, gravada em minha memória. Outra tem olhos negros, que parecem tentar camuflar o ímpeto que está escondido por dentro numa doçura magnífica, fazendo com que eu não consiga parar de fitá-los.

A primeira vez que não me senti sozinho nessa fixação foi ao ler Dom Casmurro. Os famosos olhos de ressaca de Capitu, olhar que “trazia não sei que fluído misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.” Esses orbes malditos que me prendem num estranho êxtase, num fascínio perigoso. Amo-os, mas os odeio. A parte mais bela da face feminina, por vezes a única, criados por Deus, corrompidos pelo Diabo e muita vez mais perigosos que suas bocas. Janelas embriagantes da alma, oásis perdidos ou miragens, os divinos olhos tupiniquins.