Páginas

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Palácio

“Seu marido está aprontando.” A voz do outro lado da linha era estranhamente familiar, a notícia dada era direta, nem tempo para um alô.

“O que?” Ela nem teve tempo para pensar no que ouvira.

“Está no Palácio.” Mal acabara de falar e desligou o telefone.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Puro Humo

charity-opusx-cigar

Férias é o melhor tempo para ler livros e sentir o tempo passar devagar quase escorrendo pelos ponteiros.

Comecei a ler o livro Fumaça Pura, uma ode ao tabaco e sua sensual relação com o cinema e à literatura. Escrito por um cubano, naturalmente dá ênfase ao charuto, mas acha espaços para o cigarro e o rapé.

Naturalmente, estou morrendo por um charuto agora. 

Os cigarros são o oposto pervertido dos charutos; os charutos são longos, os cigarros curtos; os charutos são escuros, os cigarros brancos; os charutos são grossos, os cigarros delgados; os charutos tem cheiro forte, os cigarros perfumados; os cigarros são para os lábios, os charutos para a boca e para os dentes; os cigarros não se apagam, mas se extinguem rapidamente, enquanto os charutos parecem viver para sempre; os charutos são sujeitos rudes, os cigarros femininos são como as joias; os cigarros a gente fuma sem parar, os charutos devem ser fumados em intervalos certos, com todo o ócio do mundo. Os cigarros pertencem ao instante, os charutos são para a eternidade.

- Guillermo Cabrera Infante (Fumaça Pura)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um braço de mulher

 

ceu_natal

Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que "nós não podemos descer!". O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado, à espera de ordem para pousar. Procurei acalmar a senhora.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Detalhes

olhar

Ah, os detalhes! Pormenores, como diriam os puristas. Vírgulas que separam orações, apostos, escondem palavras, invertem períodos. Sutis formas que nos levam despercebidos por caminhos tortuosos. Separam um carinho de um tapa, uma aprovação de reprovação, o sarcasmo da verdade, o porquê do porque.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mamihlapinatapei

Mamihlapinatapei

Hoje, pela internet, recebi um link com vinte palavras que não possuem tradução. Duas portuguesas – cafuné e saudade – estavam na lista - a última já esperada, a primeira nem tanto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Atualizando

Estou fazendo experiências com o layout do blog.

A primeira é o novo formato, também temos os botões de compartilhamento para facebook, twitter e outras redes sociais.

Agora, depois do toque da Tefa, coloquei um botão de “curtir” do facebook. Ele só aparece quando você entra no link da postagem.

Viva o Google e os blogs com códigos para blogueiros analfabetos em HTML.

domingo, 3 de outubro de 2010

Poça

Quando andamos pelas nossas cidades, poucas vezes nos damos conta da beleza que se esconde à plena vista. Mas algumas situações nos colocam em perspectiva. Toda a fragilidade, rapidez, volatilidade da vida é colocada em nosso caminho. O destino surreal, ou o azar desgraçado, dependendo da sua fé, nos joga na cara a sorte que temos. Então damos valor, nem que por um dia ou algumas horas, à beleza do que nos cerca.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nota de rodapé

Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim

Conhece o vocábulo escardinchar? Qual o feminino de cupim? Qual o antônimo de póstumo? Como se chama o natural do Cairo?

O leitor que responder "não sei" a todas estas perguntas não passará provavelmente em nenhuma prova de Português de nenhum concurso oficial. Alias, se isso pode servir de algum consolo à sua ignorância, receberá um abraço de felicitações deste modesto cronista, seu semelhante e seu irmão.

Porque a verdade é que eu também não sei. Você dirá, meu caro professor de Português, que eu não deveria confessar isso; que é uma vergonha para mim, que vivo de escrever, não conhecer o meu instrumento de trabalho, que é a língua.

Concordo. Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido. De vez em quando um leitor culto se irrita comigo e me manda um recorte de crônica anotado, apontando erros de Português. Um deles chegou a me passar um telegrama, felicitando-me porque não encontrara, na minha crônica daquele dia, um só erro de Português; acrescentava que eu produzira uma "página de bom vernáculo, exemplar". Tive vontade de responder: "Mera coincidência" — mas não o fiz para não entristecer o homem.

Espero que uma velhice tranqüila - no hospital ou na cadeia, com seus longos ócios — me permita um dia estudar com toda calma a nossa língua, e me penitenciar dos abusos que tenho praticado contra a sua pulcritude. (Sabem qual o superlativo de pulcro? Isto eu sei por acaso: pulquérrimo! Mas não é desanimador saber uma coisa dessas? Que me aconteceria se eu dissesse a uma bela dama: a senhora é pulquérrima? Eu poderia me queixar se o seu marido me descesse a mão?).

Alguém já me escreveu também — que eu sou um escoteiro ao contrário. "Cada dia você parece que tem de praticar a sua má ação — contra a língua". Mas acho que isso é exagero.

(…)

Rubem Braga

Para ler a crônica completa, clique aqui.

sábado, 25 de setembro de 2010

Folhetim

bianca-duplo-um-certo-fascinio-os-mandamentos-do-amor_1

---

- Porra, de novo com esses livros?! Já falei, vai ler alguma coisa decente! – Gritei indignado ao entrar no quarto.

- Não gosto que você fale isso dos meus livros. – Disse ela enquanto fechava o “Bianca” em seu colo e baixava seus óculos finos, me olhando por cima, com uma cara docemente irritada.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dica

Dica aos melancólicos de plantão:

---

---

A edição de setembro da revista Mente e Cérebro traz três ótimas matérias sobre um mal que assombra muita gente e é muito mal interpretado: a depressão; além de outras matérias interessantes, todas relacionadas à psicologia e ao cérebro.

Ao contrário de revistas como a Superinteressante, a M&C é escrita pelos próprios pesquisadores em forma de divulgação científica (me desculpem jornalistas).

Só para dar mais credibilidade, a Mente e Cérebro é editada pelo mesmo grupo que produz a Scientific American.

Custa R$11,90. Dez centavos menos que aquela Piauí que vocês cults adoram.

A dica foi dada.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Echar de menos

buenos aires (396)

A Avenida de Mayo parecia um pouco diferente naquela noite. Mais colorida, clara, movimentada. O vento frio embalava a fumaça do meu último cigarro por entre os carros. Quando o táxi chegou, arremessei o cigarro com os dedos, tirei meu chapéu e sentei no banco de trás, abandonando minhas malas ao meu lado.

- Donde?

- Ezeiza.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Plantão

Tive de trabalhar durante um tarde fria e chuvosa. Ficar de plantão ao telefone, quebrar um galho a beneficio de todos. Coisa pouca e simples. Pelo menos em tese. Quando cheguei ao trabalho, resoluto em minha função, descobri-me completamente sozinho, acompanhado apenas de um computador temperamental e uma biblioteca cheia de livros vazios e algumas pérolas. Andei por entre seus ínfimos corredores, como um rato procurando pelo queijo. Kafka, já lera; Veríssimo também, Sidney Sheldon, não mais; e encontrei-me com Woody Allen. Mergulhei em seus contos filosóficos e satíricos, devorando-o simplesmente. As páginas encontraram seu fim e, logo, voltei ao começo.

domingo, 8 de agosto de 2010

A Máquina

Hoje uma nostalgia me acertou. Eu sempre passo por um corredor no trabalho onde escuto um som que não ouvia faz anos. O tec-tec alto, voraz, impiedoso de uma grande máquina de escrever. Olhando a sala da máquina, você se sentia admirando o passado; o funcionário, sentado, com a camisa de botões aberta até pouco mais da metade, com os pelos grisalhos do peito se projetando para fora, numa visão grotesca e suada; acompanhando o aspecto alheio, um cigarro jazia no canto da boca, implorando sutilmente para que suas cinzas fossem batidas. Quase inaudível, em meio ao frenesi escritor, um rádio anunciava as últimas notícias da cidade, já o barulho do velho ventilador de ferro pendurado no teto nem se escutava. Tirando uma foto sépia da cena, qualquer admirador desatento afirmaria: isso não acontece hoje em dia.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A maçã mordida


Alan turing idealizou a máquina universal e influenciou toda a idéia de computador, é considerado o "Newton" da computação. Sua dramática história de vida acabou com o suícidio após a prisão sob acusação de "loucura e perversão sexual", ou seja, para a época, o mesmo que ser homossexual. O matemático foi obrigado a tomar hormônios femininos, entrou em profunda depressão e, devido à obsessão pelo filme "A branca de neve e os sete anões" , se matou mordendo uma maçã envenenada. O texto conta a verdadeira história do símbolo da Apple. Muitos creditaram a maçã mordida da Steve Jobs como homenagem a Turing, mas não é bem verdade. A biografia do escritor David Leavitt contesta, mas a imagem do primeiro símbolo (acima) supre qualquer dúvida.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Novidades

Dei uma repaginada no layout do Blog, quem sabe isso vai incentivar os membros do blog a postar alguma coisa.

Também criei um Feed RSS.

Câmbio, desligo.

sábado, 5 de junho de 2010

“Tu acreditas em amor?”

***

Marina chorava deitada no divã, abrigada na escuridão de sua sala. No lado de fora a chuva fustigava a janela do pequeno apartamento. Dois dias de chuva, o mesmo número de dias sozinha. Enquanto as lágrimas escorriam pela face e pingavam do delicado queixo, ela se apegava as memórias e se perguntava se podia voltar atrás.

Levantou-se, caminhou lentamente, ainda de pijamas, até a janela. Olhando sua própria imagem triste, teve vontade de abrir-la para sentir a chuva no rosto, refrescar-se, limpar o choro, esquecer de tudo. Com as mãos na tranca desistiu, não adiantava, não iria curá-la. Não tinha mais nada a fazer além de se jogar novamente e se entregar às lagrimas, à torpe dor.

Quatro meses em que caminhou por cima dele, despiu-o de seu ego, provocou nele lágrimas. Irônico, ela pensava, agora sou eu aqui aos prantos. Como um animal cansado de ser maltratado, ele fugiu, não quis saber mais da mão que lhe trazia fel. Marina, segura, achava que estaria como antes, livre, desinibida, pronta para o resto da vida. Agora estava lá, deitada, coberta em seu pranto, acompanhada da chuva, escuridão e seu velho divã.

sábado, 29 de maio de 2010

Jacobina

Aconteceu quando eu voltava do colégio. Estava no primeiro ano, não conhecia muita gente e o caminho até o ponto de ônibus eu fazia sozinho. Sem pressa, pois o almoço em casa sempre tinha que ser esquentado e havia muitos ônibus naquele horário, fazia o trajeto olhando a curiosa e, para mim, nova cidade açoriana - os velhinhos amontoados nos tabuleiros de xadrez ou jogando dominó, as ruas estreitas, o calçadão, o câmbio dólar.

Como eu era diferente naquela época... Mais magro, praticava esportes, não bebia ou fumava e queria fazer faculdade de História na UDESC. Mas ainda gostava de ler, passava tardes de ócio no computador e não entendia as mulheres, como hoje. O cabelo sentia falta de uma tesoura, sem corte, desgrenhado e comprido, a face sem barba, a testa com espinhas; calça jeans preta, camisa do colégio branca e por baixo a camisa australiana – então - preta.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Glossário-zinho-inho

O contato com os internos de uma penitenciária (para não dizer “presos”) é uma coisa única. Depois que cruzamos os  portões, o mundo fica de cabeça para baixo; tudo muda, a hierarquia, os hábitos e o vocabulário. O linguajar dos apenados (não vou dizer “presos”) tem as mesmas peculiaridades que qualquer vocabulário de qualquer “tribo” moderna tem. Algumas para não dar a entender a coisa errada – ou você acha que pedir um “rabo quente” não ia pegar mal?

Como várias pessoas gostam das gírias internas, ai vão algumas:

- Marrocos: pão

- Moca: café

- Vaquinha: leite

- Areia: açúcar

- Alpiste: arroz

- Rolamento/Jofer: feijão

- Macaca/Meia lua: banana

- RQ: rabo quente

- Semente: ovo (de semente de galinha, adoro essa)

- Granada: almôndega

- Zoiuda/Tela: televisão

- Papagaio: rádio

Sinto como se eu estivesse quebrando um código falando isso, então só vou ficar com esses. Quem sabe algum dia não afogamos o boi, arranjamos uma mulher de polícia assada, ou um caçador de Andrade do Design não é pego com o radinho andando por ai...

sábado, 22 de maio de 2010

5 maneiras de cortar uma árvore

Inspirado na série conceitual da Aglair Bernardo, quando a proposta é 5 maneiras de cortar uma laranja.

5 maneiras de cortar uma árvore, sábado, 22 de maio.

Cai uma árvore empurrada pelo vento, observada da sacada. Nem sequer havia uma serra ou um homem para gritar avalanche. Essa é a melhor maneira de tombar, ao destino, tranqüila, como deve ser. Às vezes, quando a árvore é um pouco desmilinguida, o melhor é cortar galho por galho, para evitar o caimento do seu mesmo lado. É quase uma tortura chinesa com a planta. Depois de tirar pedaço por pedaço, o golpe fatal é na estrutura, como uma última chance de entender que chegou o fim.

A terceira maneira economiza tempo. Você não quer vida nela, então a serra corta na base, e é de uma vez. A vantagem é que a culpa também dura pouco, logo outra semente cai na terra, e a árvore nem sente cada pedaço roubado. É uma solução egoísta, onde você machuca vasos floema e todo resto, mas só uma vez. Mais fácil ainda é quando a árvore é pequena, mas será plantada em outro solo, é só arrancar a raiz. Ela fica algumas horas em alfa, mas logo se conecta consigo mesma, voltando a ser vida.

A última é, sem dúvida, a mais cruel. Utilizada pelos grileiros do norte, usam uma serra que recebe força dos dois lados, por dois homens. Enquanto um empurra, o outro puxa. Duas pessoas. A serra vai entrando de pouquinho em pouquinho naqueles grandes caules de 4 metros de raio. Primeiro a epiderme, a derme, nervuras, estomas, tricomas, tudo sendo cortado por duas forças que nem pensam no que existe dentro daqueles 20 metros de confiança.

E cai. Com tudo dentro dela e em pedaços, pronto pra virar criado-mudo.

domingo, 7 de março de 2010

Embriaguem-se

"É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: ‘É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso’. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."

- Baudelaire

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dança de Jim Bean?


Acordei lentamente com a cabeça latejando. Outra noite bebendo, mais uma noite sozinho. Quando você dorme numa cama tão grande e tão vazia por tanto tempo, você nem se lembra mais de como é ter alguém. Dizem que o amor é como uma festa, quando você está dentro dela, está louco para sair, mas se você está fora fica puto por não ter sido convidado. Bem, não vou muito nessa, mas não me importa. Fiquei sentado na cama por um tempo. Olhei o relógio no criado-mudo, dormi demais, de novo. Levantei e abri as cortinas. Meu quarto está uma desgraça. O pequeno cubículo com uma geladeira, cama, criado-mudo, cômoda e uma escrivaninha em frente à única janela, todos dispostos conforme o espaço permite, estava sujo, maços de cigarro no chão, cinzeiro transbordando e uma garrafa de brandy pela metade.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Nota

"Mas encrecas e a dor é que mantêm a gente vivo. Um trabalho de tempo integral. E às vezes nem dormindo dá pra descansar. No meu último sono, eu me via embaixo de um elefante, não podia me mexer e ele soltava um dos maiores cagalhões que eu já vira, já ia cair, e aí meu gato, Hamburger, passou por cima da minha cabeça e eu acordei. Se a gente contar esse sonho a um psiquiatra, ele vai tirar uma conclusão horrível. Pois se a gente lhe paga os tubos, ele vai dar um jeito para que a gente se sinta mal. Vai dizer à gente que o cagalhão é um pênis e que a gente está ou assustado ou que deseja aquilo, alguma merda deste tipo. O que quer dizer é que ele está assustado ou que ele deseja o pênis. É só um sonho sobre um grande cagalhão de elefante, nada mais. Às vezes as coisas são apenas o que parecem ser, sem nada demais. O melhor intérprete do sonho é o próprio sonhador. Guarde seu dinheiro no bolso. Ou aposte num bom cavalo."
- Bukowski

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Releituras

Férias, fim de janeiro já. O relógio faz tic-tac; cedo o horário de verão acabará, o período de ajuste de matrícula chegará e tudo vai voltar ao estranho tédio. Não, “tédio” não é a palavra certa. Queira ou não a volta às atividades normais quebra uma monotonia, ou melhor, troca a monotonia. A animação suspensa do começo do ano pela rotina corriqueira universitária.

De qualquer modo, estamos na metade do processo. O tempo ainda existe, a praia está lá fora, mas o tempo não ajuda. Então, antes que me perca mais nessa nota, aproveita o tempo livre que perdes na internet e visita o Projeto Releituras.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sonho

Hoje tive um sonho bom. Aqueles sonhos que embalam o sono, parecem que nunca vão acabar, e, quando acabam, lhe deixam feliz; feliz, porém, não pelo seu fim, mas pela leveza que deixam na alma. Um sonho que alegra o espírito, que resgata tudo aquilo que o vil tempo tentou, em vão, apagar.

Aquele sonho que vem uma vez por ano, semestre ou mês, aquele que te renova, ausente de interpretações freudianas ou místicas quaisquer. É simplesmente um sonho, o mais puro deles. Um sonho que cura o frio da alma dos poetas de antigamente, mas, mesmo curando-os, não os impede de escrever suas bobagens bem meigas para todo mundo os achar ridículos. Sonho que não pode ser descrito em prosa, somente em versos de rima rica e métrica exata.

Hoje tive um sonho, quem ler isso vai saber. Terá certeza de que em algum lugar, algum dia, alguém a teve, com o maior bem querer. E até mesmo o vil tempo nunca apagará isso.

http://www.releituras.com/rubembraga_desaparecido.asp

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um Homem precisa viajar.

Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver. Não há como não admirar um homem - Costeau- ao comentar o sucesso do seu primeiro grande filme: "Não adianta, não serve para nada, é preciso ir ver". (...) Pura verdade. O mundo na TV é lindo, mas serve para pouca coisa. É preciso questionar o que se aprendeu. É preciso ir tocá-lo."

Amyr Klink

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

É desconcertante; Rever o grande amor.

Tocava regional fm no outro lado da sala de espera do consultório. Sozinha esperando a terapia, o cheirinho de flor de laranjeira, o sofá bege e ela. ELA.

Deixa eu te analisar, vamos inverter. Seus cinquenta anos, uma calça jeans, uma blusa de renda com um grande colar e all star. Deixa eu te contar, estou como sempre. Todo o esforço de acabar com a mente lotada não funcionou. E aquela onda de você não, você sim, meu antigo amor, a paixão desesperada, a raiva desesperada, o adeus no aeroporto, tudo, tudo isso é mais forte que o ainda. Porque toda vez que jogo algo fora, ainda, por mais que doa, é com [por] ELE; os novos perdem em qualquer comparação. Porque eu colocava o pijama sabendo do elogio, que ele tirava pelo cheiro entre os seios. É difícil saber que o amor próprio é mais importante depois de escutar que meus fios de cabelo são perfeitos. Seus pêlos são lindos. Seu coração é feito de qualquer coisa que quebra, mas que ele seguraria. Foda-se o amor próprio, prefiro ser amada assim. Os filmes passavam - assim contávamos o tempo - e eu continuava no mais alto pedestal, com margaridas na base e músicas perfeitas pra eu rir escutando. Ele me carregava pela casa, ou pela rua, ou pelo mundo, nunca pelos mesmos lugares, onde eu sempre pisava primeiro, já que meu nome começa com C, uma letra antes da inicial dele. E os anos passaram, eu caí do pedestal, ele me segurou, eu quis soltar as mãos dele, ele perdeu os dedos. E eu aqui, escutando regional FM. ELA disse que sem amor-próprio não se pode viver. Eu disse que só dá pra viver assim quando alguém não te ama tanto, que tira tudo que já teve.