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segunda-feira, 27 de junho de 2011

O poetinha – parte III (final)

*Parte III? Perdido? Leia a parte I e a parte II
...
“Desembucha, Chico. To ficando preocupado contigo.”

“Cara, não é nada...”

Estávamos apenas os dois, sentados na mureta do terreno baldio, atrás do Posto Sete. Já estava escuro, compramos um garrafão de vinho colono, do mais barato e suave. Chico jogara seu bloco de poesias fora, estava depressivo e mal saia de casa. Prometi a ele uma bebida e um baseado para levantar o espírito; era o único jeito de tirá-lo de casa. Ele tomava aquele vinagre como refrigerante, cada vez mais bêbado. Assim ficava mais fácil de descobrir o que acontecera.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O poetinha – parte II

*Parte II? Que diabos?! Leia a primeira parte aqui

Érato, de Edward Poynter

Era um quente fim de tarde quando Chico entrou no ônibus. Mesmo com todas as janelas abertas, a sensação abafada era quase insuportável. Com cair do sol, um matiz brilhante viajando do cobre ao rosa pousava no horizonte, refrescando os olhos cansados de um dia quente de verão. Naquela época, ainda se entrava no ônibus pela porta traseira, você não via o rosto da pessoa que sentaria no seu lado para escolher a melhor companhia. O ônibus estava lotado, dando apenas uma opção de banco para Chico. Por sorte, no lado de uma mulher; e ela era linda... pelo menos de costas. Cabelos loiros com mechas que iam do amarelo-claro, quase branco, ao dourado do ouro velho, balançando com o vento da janela e refletindo a morte lenta do sol.

sábado, 18 de junho de 2011

O poetinha

Chico era um cara malandro. Destacava-se da trupe da rua por um atributo desejado por muitos e dominado por poucos: tinha a melhor conversa com as meninas. O primeiro a começar com namoricos, sapecadas e afins. Ele tinha olhos verdes graúdos, boca fina, cabelo encaracolado caindo na testa e orelhas, e um nariz helênico reto. Na verdade, em algumas rodas poderia até ser considerado bonito.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sábado

Hoje é sábado
e você ainda não chegou.
Preciso de você aqui
para encher de paz a minha guerra.
Somente a tu presença
irá acabar com minha espera.

terça-feira, 7 de junho de 2011

violão-mulher

Naquela época eu morava com minha avó em uma ruazinha tranquila do Estreito. Aquele inverno gelado, que fazia do céu da ilha azul celeste e a tainha correr para o Rio… Ainda estava na faculdade, brincando de professor enquanto tentava escrever alguns contos ou crônicas. Os poucos que considerava de qualidade eram publicados no jornal da faculdade ou até, três vezes apenas, no Jornal de Santa Catarina. Na verdade, escrever sempre foi um sonho antigo, mas eu realmente não levava fé. O incrível, porém, foi descobrir que algumas pessoas realmente começaram a curtir o que eu escrevia, e, em homenagem a uma delas, que apareceu lá em casa no começo dos anos 80, talvez em 82, que vou contar essa história.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Gracias por el fuego

Mario Benedetti, Gracias por el fuego (1965)

- Para os norte-americanos a democracia é isso: deixar que em seu país todo mundo vote e passe o weekend lendo tiras humorísticas, deixar que todo mundo (menos os negros que estão em penitência ) se sinta que é cidadão, e por outro lado aproveitar o trabalho da chusma latino-americana. Para mim, ao contrário, a democracia é isto: escrever todos os dias um editorial de exemplar maturidade e correção política, e telefonar em seguida para o Chefe de Polícia para que de um arrocho em meus operariozinhos em greve. Eu não tenho dúvidas. Já que me coube nascer num país de merda, eu lhe correspondo. Eu o uso para mim, isso é tudo. Seu bisavô falava de Pátria, seu paizinho fala sobre Nacionalismo, você fala sobre Revolução. Eu falo de mim, garoto. Mas garanto que sei mais do meu tema que vocês do seu. Que somos colônia? Claro que sim. Afortunadamente. Mas, diga-me. Quem aqui quer ser independente? Vejamos essas bombinhas, por favor. Juro que não me assustam. Uma coisa eu te digo. É mais provável que um dia um operário que eu despeça ou insulte, porque gosto de insultá-los, vá ruminando até sua casa, rumine um pouco mais enquanto toma seu mate, então compre um revólver, volte até a fábrica e me dê um tiro; é mais provável que isso aconteça um dia e não que suceda algo tão descartável e tão insólito que seus esquerdistas de botequim se porem de acordo, armarem finalmente o quebra-cabeça de seus escrúpulos e suas tendências e decidam por uma bomba em meu Impala. Para matar um sujeito tem-se que acordar corno ou ter colhões ou estar bêbado. E vocês tomam coca-cola.

Mário Benedetti é muito conhecido por suas maravilhosas poesias - uma delas já postada aqui há muito tempo. Mas como minha paixão é pela prosa, não pude evitar de comprar Gracias por el fuego (1965), o terceiro romance do brilhante uruguaio. E sim, mesmo traduzido, o nome do livro continua em espanhol.

sábado, 4 de junho de 2011

Madrugada volte sempre

Olá! Depois de anos resolvi postar o meu segundo texto para o blog. Então aí vai algo que escrevi já há algum tempo, que trata sobre uma das minhas maiores paixões: a madrugada! Estou querendo transformar isto em música, vamos ver se vai dar certo. Então assim que ficar pronto irei postar aqui (se é que pode colocar música em blog, nem sei).