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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dança de Jim Bean?


Acordei lentamente com a cabeça latejando. Outra noite bebendo, mais uma noite sozinho. Quando você dorme numa cama tão grande e tão vazia por tanto tempo, você nem se lembra mais de como é ter alguém. Dizem que o amor é como uma festa, quando você está dentro dela, está louco para sair, mas se você está fora fica puto por não ter sido convidado. Bem, não vou muito nessa, mas não me importa. Fiquei sentado na cama por um tempo. Olhei o relógio no criado-mudo, dormi demais, de novo. Levantei e abri as cortinas. Meu quarto está uma desgraça. O pequeno cubículo com uma geladeira, cama, criado-mudo, cômoda e uma escrivaninha em frente à única janela, todos dispostos conforme o espaço permite, estava sujo, maços de cigarro no chão, cinzeiro transbordando e uma garrafa de brandy pela metade.

Notei que tinha correspondências embaixo da porta. Uma conta e dois postais. Joguei a conta na cama e caminhei com os postais para a escrivaninha. Estava os esperando faz dias. Sempre bom ter notícias de alguém de longe, mesmo que por algumas linhas. Fazia tempo que não sorria um pouco.

Peguei o maço do chão, um bloco de papel e um lápis sem ponta. Com um tapa tirei o cigarro e levei-o a boca. Abri a primeira gaveta procurando o isqueiro. Merda, nunca sabia onde o guardava. Achei o canivete e apontei o lápis enquanto o cigarro esperava pendurado em minha boca. Na segunda gaveta achei uma caixa de fósforos. Só tinha um, em meio a todos os outros já queimados. Vamos, não me deixe na mão seu desgraçado. Risquei-o e consegui acender antes que o maldito se apagasse. Nada melhor que um cigarro pela manhã; só faltava o café. Esvaziei o cinzeiro pela janela, bebi um pouco de brandy direto da garrafa. Pronto, agora tudo está melhorando.

Começo a rabiscar uma carta, minha cabeça não funciona muito bem pela manhã, ligo o rádio para embalar alguma coisa. Não funciona. Foda-se. Troco de roupa pego minhas chaves. Vou começar o dia.

Desci as escadas daquele apartamento horrível. Putas, drogados e imigrantes ilegais. Puta vizinhança. Sorte que não ligo para agressões domésticas ou sirenes. Cheguei à rua, fui ao bar mais próximo.

Típico bar ruim bom, garçom velho, com ar de quem não dá a mínima para você, lendo um jornal em frente à máquina de cerveja. Alguma puta fedorenta no balcão perto do banheiro, fumaça, pote de amendoim velho, penumbra. Nada atrapalha mais um bêbado do que luz branca. Sentei no bar, pedi uma cerveja, acendi outro cigarro. A alguns bancos longe de mim, também no bar, um bêbado tomava seu uísque com água. Não água misturada, só um copo com uísque, outro com água. Nada como um bar pela manhã.

- Quer um cigarro? perguntei pro bêbado.

- Vai te foder. respondeu esticando o braço para pegar o cigarro.

- O que foi? Não gosta de pessoas?

- Não, principalmente quando estão perto de mim.

- Garçom, dá outra dose pra ele.

O garçom se mexeu com preguiça como se eu estivesse atrapalhando sua leitura e serviu a dose. Levantei o copo.

- Às pessoas! brindei irônico.

Ele levantou também seu copo e viramos nossos drinques. Perguntei:

- Qual teu nome?
- Hank Chin–-
 
Interrompi-o.

- Acho que isto está muito clichê ou plágio. Foda-se. Vou ficar por aqui...

2 comentários:

luks disse...

é um retrato bastante familiar, é bukowski mesmo isso? x*

Daniel disse...

esse não, é só uma brincadeirinha minha...