Aconteceu quando eu voltava do colégio. Estava no primeiro ano, não conhecia muita gente e o caminho até o ponto de ônibus eu fazia sozinho. Sem pressa, pois o almoço em casa sempre tinha que ser esquentado e havia muitos ônibus naquele horário, fazia o trajeto olhando a curiosa e, para mim, nova cidade açoriana - os velhinhos amontoados nos tabuleiros de xadrez ou jogando dominó, as ruas estreitas, o calçadão, o câmbio dólar.
Como eu era diferente naquela época... Mais magro, praticava esportes, não bebia ou fumava e queria fazer faculdade de História na UDESC. Mas ainda gostava de ler, passava tardes de ócio no computador e não entendia as mulheres, como hoje. O cabelo sentia falta de uma tesoura, sem corte, desgrenhado e comprido, a face sem barba, a testa com espinhas; calça jeans preta, camisa do colégio branca e por baixo a camisa australiana – então - preta.