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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Palácio

“Seu marido está aprontando.” A voz do outro lado da linha era estranhamente familiar, a notícia dada era direta, nem tempo para um alô.

“O que?” Ela nem teve tempo para pensar no que ouvira.

“Está no Palácio.” Mal acabara de falar e desligou o telefone.

Vera Lúcia colocou o telefone no gancho ainda meio grogue. Era madrugada de sexta feira, estava sozinha em casa, a filha pequena dormia no quarto. O marido tinha saído com os amigos, programa de garotos, chope, futebol e bobagem. Pelo menos era o que pensava.

Mulher caseira, ao menos agora, abocanhou Caio cedo, namorico de adolescentes que foi crescendo, as coisas foram esquentando e, depois de um descuido, engravidaram. No começo quem bancava o namoro era ela, Caio mal tinha dinheiro para pagar o ônibus, muito menos o cinema. O pai de Lúcia, empresário famoso na cidade, bancou os estudos da criança no começo. Mas Caio se formou, entrou no ramo de programação e design e começou a ganhar dinheiro. Muito dinheiro. Comprou um apartamento para o casal, um carro e um closet cheio de sapatos para ela. Retribuiu o dinheiro investido por Vera no começo do namoro. E os dois eram felizes. Ou algo assim. Brigavam por pouca coisa, ele já fugira de casa uma vez, mas sempre se acalmavam juntos. O sonho dele de ter dinheiro se encontrava com o dela, de casar com alguém com dinheiro. E sempre cuidavam da criança também, claro.

O telefonema deixou Vera Lúcia com uma pulga, talvez um carrapato, atrás da orelha. O Palácio era uma conhecida zona da cidade, nada muito real ou surreal como o nome dizia, mas para uma cidade pequena como aquela, era um bom bordel. Resolveu ficar acordada, vendo televisão até seu homem voltar. Depois de dois filmes escutou a chave girando. Pronto, ele chegara. Sua mãe sempre dizia, “Não faça barraco, não de esse gosto”. Levantou e abraçou seu homem. A reação dele foi um tanto arisca, talvez pelo estranhamento das duas situações, Vera acordada até tarde somente para esperá-lo e o abraço amoroso de boas vindas.

O abraço, talvez, amoroso era um simples subterfúgio para o nariz. Ao abraçá-lo, cheirou profundamente seu cangote. Conseguiu definir dois cheiros fortes: charutos e uísque, mas uma nota de fundo extremamente doce e quase floral chamava atenção. Percebeu na hora, que se tratava de perfume vagabundo de vagabunda. “Caio, meu querido, vais aprender.”

“Oi, meu amor, como foi a noite?” Perguntou com aquela doce feição venenosamente feminina.

“Boa, querida. O que você está fazendo acordada?” Tentou escorregar do abraço enquanto tirava os sapatos.

“Te esperando.” Desceu a mão pelas calças dele, segurando seu sexo nas mãos e deslizando cada vez mais sua mão para baixo. Mas não, não era um simples ataque de tesão noturno que infligia Vera naquela madrugada, o que ela queria era saber se o marido usara seu instrumento naquela noite. Mas claro, depois disso ficou com aquele ataque.

Agora ele desistira de escorregar do abraço e agarrou-a, enganchando-a em sua cintura, e caminhou até o quarto, chutando a porta e despejando-a sobre os lençóis.

***

Continua…

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