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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Perda

Acabou. Terminou de vez. Já se passava da meia-noite quando, após horas a fio de estudo improdutivo, tomei a decisão de dar um fim ao meu sofrimento. Após receber mais uma negativa para qualquer pequeno compromisso que seja, uma peça de teatro, um cineminha ao fim da semana, um petisco qualquer na esquina do supermercado.

Nada, todos negados.

Ela afirma ser por causas superiores, vontades alheias as dela, mas eu não consigo admitir. Como assim? Como, após meses de amor intenso, tudo pode se apagar de uma hora para outra? Como tudo aquilo de bom que havíamos construído evaporou da mente dela como água em ebulição fervorosa? Eu sofro. Na kitnet apertada, tocando músicas melancólicas no velho Giannini de família, com o copo ao lado cheirando a fumaça, tentando esquecê-la - je souffre.

Então eu paro e penso: Diabos, que assunto mais clichê, sofrer de amor! Eu deveria estar por aí, na farra, como fazem os jovens gozadores. Muita bebedeira, curtição e agarração sem compromisso nenhum, refastelando-se no imaculado livre arbítrio da juventude.

Confesso que já tentei. Já tive outras mulheres além dela. Aquelas que chamam de mulheres fastfood. Mas mesmo acordando no dia seguinte ao lado de um fenômeno da natureza - belas curvas, belos músculos, belos cabelos -, mesmo após preencher com total voracidade a alma e corpo da bela adormecida durante a noite; eu acordo vazio. Triste e melancólico como uma caminhada ao amanhecer de uma praia a mercê de densa neblina.

Por quê?! Por que os seres-humanos - famosos por tanta racionalidade e inteligência - sofrem desse mal burro, egoísta e teimoso com chamado amor? Por quê?! "É o que dá graça à vida!" – diria algum bonvivant que também, no fundo de um coração malandro, também já sofreu por alguém em nome do amor.

Pois se é isso que dá graça à vida, obrigado; essa graça eu não quero não senhor.

Mas... oh sim! Não nos esqueçamos da sublime fase enquanto o amor é concreto, palpável, compartilhável entre as duas partes. Juras eternas, abraços infinitos, beijos eloquentes!

Como é bom amar e ser amado. Conviver e compartilhar. Querer possuir um ser tão insignificante para a grandeza do universo só para si e mesmo assim jurar: "Te amo! Do tamanho de mil universos inteiros, meu amor!" Como o amor é bobo, mimado, dengoso e superprotegido. Quando se está amando é só ele que importa! AMOR, eu e nada mais!

Assim fica fácil entender a dor aguda no peito, a angústia na boca do estômago, as tremedeiras de choro na cama de madrugada durante aquela data especial, quando tudo se acaba. O mundo desaba, o chão desaparece, as paredes se tornam pequenos caixotes; você pensa que vai morrer, ali mesmo, no mesmo quarto que já presenciou as mais irrefutáveis provas de amor...

Pior é quando, como se não bastasse somente essa dor alucinante, vem o maldito arrependimento. Palavra esta que deveria ser suprimida do dicionário, da vida, da terra, do universo! Melhor é ser abandonado do que abandonar um grande amor e depois se arrepender profundamente. Ficar pensando se não já havia encontrado a alma gêmea, a metade da laranja, o amigo-do-lado-esquerdo-do-peito, a mulher, a companheira, a mãe, a vó, enfim. Encontrou e deixou escapar por entre os rudes e insensíveis dedos que não souberam apreciar a veludez da pessoa que ofereceu "todo o amor desse mundo que houver nessa vida" só - e somente - para você.

Isso dói, dói muito. E eu não desejo isso pra ninguém.
Nem mesmo para Strauss-Kahns ou Battistis.

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