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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

É desconcertante; Rever o grande amor.

Tocava regional fm no outro lado da sala de espera do consultório. Sozinha esperando a terapia, o cheirinho de flor de laranjeira, o sofá bege e ela. ELA.

Deixa eu te analisar, vamos inverter. Seus cinquenta anos, uma calça jeans, uma blusa de renda com um grande colar e all star. Deixa eu te contar, estou como sempre. Todo o esforço de acabar com a mente lotada não funcionou. E aquela onda de você não, você sim, meu antigo amor, a paixão desesperada, a raiva desesperada, o adeus no aeroporto, tudo, tudo isso é mais forte que o ainda. Porque toda vez que jogo algo fora, ainda, por mais que doa, é com [por] ELE; os novos perdem em qualquer comparação. Porque eu colocava o pijama sabendo do elogio, que ele tirava pelo cheiro entre os seios. É difícil saber que o amor próprio é mais importante depois de escutar que meus fios de cabelo são perfeitos. Seus pêlos são lindos. Seu coração é feito de qualquer coisa que quebra, mas que ele seguraria. Foda-se o amor próprio, prefiro ser amada assim. Os filmes passavam - assim contávamos o tempo - e eu continuava no mais alto pedestal, com margaridas na base e músicas perfeitas pra eu rir escutando. Ele me carregava pela casa, ou pela rua, ou pelo mundo, nunca pelos mesmos lugares, onde eu sempre pisava primeiro, já que meu nome começa com C, uma letra antes da inicial dele. E os anos passaram, eu caí do pedestal, ele me segurou, eu quis soltar as mãos dele, ele perdeu os dedos. E eu aqui, escutando regional FM. ELA disse que sem amor-próprio não se pode viver. Eu disse que só dá pra viver assim quando alguém não te ama tanto, que tira tudo que já teve.

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