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domingo, 7 de março de 2010

Embriaguem-se

"É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: ‘É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso’. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."

- Baudelaire

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dança de Jim Bean?


Acordei lentamente com a cabeça latejando. Outra noite bebendo, mais uma noite sozinho. Quando você dorme numa cama tão grande e tão vazia por tanto tempo, você nem se lembra mais de como é ter alguém. Dizem que o amor é como uma festa, quando você está dentro dela, está louco para sair, mas se você está fora fica puto por não ter sido convidado. Bem, não vou muito nessa, mas não me importa. Fiquei sentado na cama por um tempo. Olhei o relógio no criado-mudo, dormi demais, de novo. Levantei e abri as cortinas. Meu quarto está uma desgraça. O pequeno cubículo com uma geladeira, cama, criado-mudo, cômoda e uma escrivaninha em frente à única janela, todos dispostos conforme o espaço permite, estava sujo, maços de cigarro no chão, cinzeiro transbordando e uma garrafa de brandy pela metade.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Nota

"Mas encrecas e a dor é que mantêm a gente vivo. Um trabalho de tempo integral. E às vezes nem dormindo dá pra descansar. No meu último sono, eu me via embaixo de um elefante, não podia me mexer e ele soltava um dos maiores cagalhões que eu já vira, já ia cair, e aí meu gato, Hamburger, passou por cima da minha cabeça e eu acordei. Se a gente contar esse sonho a um psiquiatra, ele vai tirar uma conclusão horrível. Pois se a gente lhe paga os tubos, ele vai dar um jeito para que a gente se sinta mal. Vai dizer à gente que o cagalhão é um pênis e que a gente está ou assustado ou que deseja aquilo, alguma merda deste tipo. O que quer dizer é que ele está assustado ou que ele deseja o pênis. É só um sonho sobre um grande cagalhão de elefante, nada mais. Às vezes as coisas são apenas o que parecem ser, sem nada demais. O melhor intérprete do sonho é o próprio sonhador. Guarde seu dinheiro no bolso. Ou aposte num bom cavalo."
- Bukowski

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Releituras

Férias, fim de janeiro já. O relógio faz tic-tac; cedo o horário de verão acabará, o período de ajuste de matrícula chegará e tudo vai voltar ao estranho tédio. Não, “tédio” não é a palavra certa. Queira ou não a volta às atividades normais quebra uma monotonia, ou melhor, troca a monotonia. A animação suspensa do começo do ano pela rotina corriqueira universitária.

De qualquer modo, estamos na metade do processo. O tempo ainda existe, a praia está lá fora, mas o tempo não ajuda. Então, antes que me perca mais nessa nota, aproveita o tempo livre que perdes na internet e visita o Projeto Releituras.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sonho

Hoje tive um sonho bom. Aqueles sonhos que embalam o sono, parecem que nunca vão acabar, e, quando acabam, lhe deixam feliz; feliz, porém, não pelo seu fim, mas pela leveza que deixam na alma. Um sonho que alegra o espírito, que resgata tudo aquilo que o vil tempo tentou, em vão, apagar.

Aquele sonho que vem uma vez por ano, semestre ou mês, aquele que te renova, ausente de interpretações freudianas ou místicas quaisquer. É simplesmente um sonho, o mais puro deles. Um sonho que cura o frio da alma dos poetas de antigamente, mas, mesmo curando-os, não os impede de escrever suas bobagens bem meigas para todo mundo os achar ridículos. Sonho que não pode ser descrito em prosa, somente em versos de rima rica e métrica exata.

Hoje tive um sonho, quem ler isso vai saber. Terá certeza de que em algum lugar, algum dia, alguém a teve, com o maior bem querer. E até mesmo o vil tempo nunca apagará isso.

http://www.releituras.com/rubembraga_desaparecido.asp