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quinta-feira, 26 de março de 2009

Liberdade

O sol nascia por entre as montanhas da Serra das Araras. O cavalo pastava calmo o capim amarelado, úmido de orvalho. Deitado no chão, um homem negro dormia com a cabeça apoiada em um travesseiro improvisado, feito de trapos enrolados. As roupas velhas e sujas de barro denunciavam sua pobreza. Estava cansado. Cavalgara a noite inteira, sem descanso. Parou só quando não via sinal do homem por perto. Tinha deixado todos para trás, trouxe apenas o pouco que conseguiu: as roupas do corpo, trapos e um pão. O cavalo ele roubara do estábulo.

A fuga, planejada durante muitos dias durante o trabalho na lavoura, ocorreu como ele queria. Observara os capatazes durante a noite, sabia dos seus movimentos, e conhecia as matas melhor que todos. Saíra da senzala na calada da noite, quando os guardas estavam distraídos jogando cartas, e correra para os estábulos. De lá fugiu pela extensa mata, sem rumo, indo na direção que seu instinto mandava.

Sonhava com o momento de liberdade desde que foi raptado por brancos em sua vila. Ainda era pequeno, não pode fazer nada. Foi levado em um grande navio, cheio de outros negros. Durante meses ficou trancafiado em um porão. Lá viu de tudo: estupros, assassinatos, pessoas morrendo por doenças ou fome. Quando finalmente saiu do navio, foi tratado como um objeto e vendido para outros brancos.

Agora estava lá, deitado no chão, com fome e frio. A luz solar o acorda gentilmente. Coçando os olhos ele se levanta, e admira o horizonte. Finalmente estava livre.

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