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quinta-feira, 26 de março de 2009

Contos Infantis (Parte IV)

IV

                O som de sítar ressoava na pequena sala vindo do velho aparelho toca-discos, com o leve chiado típico dos bons aparelhos analógicos adicionando um ar de nostalgia ao som. Junto à batida psicodélica e o canto indiano, uma velha senhora regava suas preciosas plantas, vindas da conexão Londres/Amsterdam. Iluminadas pelas lâmpadas vermelhas e azuis mostravam tamanho surpreendente e suas flores, com um aroma típico, recebiam tratamento especial pela idosa.

                Após regar as plantas, a velha senhora se sentou no sofá azul, meio encardido, com braços de madeira, perfeitos para apoiar uma boa taça de vinho, e estampa de flores azuis claras, e procurou alguma coisa em seu longo vestido, feito de fibras de cânhamo cruas, no estilo anos sessenta, ele dava à senhora de cabelos grisalhos longos, enrolados em duas tranças que pendiam pelos ombros, um aspecto extremamente hippie. De um pequeno bolso escondido no decote ela puxou um pequeno cantil de alumínio, cheio de vinho e entornou-o em um único gole. Um sorriso apareceu na face calejada pelo tempo, repleta de rugas, mas que ainda apresentava a beleza dos olhos extremamente azuis.

                Um curto estampido interrompeu o estado de plenitude da senhora, barulho logo reconhecido por ela como o fim do vinil. Lentamente ela se levantou, retirou o disco do aparelho, guardou-o e andou pacientemente até a prateleira repleta de LPs, onde procurou por um substituto, dessa vez mais calmo que o anterior. Por fim decidiu-se pelo de uma velha hippie bluesera conhecida também como Pearl. Ao som do vocal rouco e gritante da música, a senhora se sentou novamente no sofá, dessa vez fitando as suas maravilhosas plantinhas, mas com o olhar distante. Naquela manhã ela tinha ligado para sua única neta, Maria Joana, pedindo alguns favores, já era hora da menina ter chegado, o que preocupava a anciã, mas ela sabia que sua neta chegaria cedo ou tarde.

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