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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Minha garotinha do fundo do baú

As havaianas eram menores do que hoje, ou seja, bem menores que o 34, ou seja, muito pequenas. Oito e meia da manhã era o prazo de fuga, quando acordava com a disposição que nunca mais teve, pulava no ombro do papai, que nunca cansava de chamá-la de minha garotinha. O presente de um Natal anterior qualquer ainda era o favorito – a bicicleta, e as Barbies não tinham mais atenção. Já estava no portão com os doze cachorros latindo para as rodas, mas antes de descer o morro da Fortaleza, a mamãe dava o melhor de si, pode acreditar: limpava a gripe na manga, passava protetor solar no rostinho bochechudo e fazia duas trancinhas que começavam do alto da cabeça até quase o quadril, onde terminavam os cachinhos da garota. Os dois irmãos marmanjos quase sempre desciam ao mesmo tempo de carro, acompanhando a corrida o caminho todo – estavam indo atrás de umas putas na praia. Ao chegar no cruzamento praia e riozinho, eles se despedem e ela fica sozinha, sem ligar. Tira o vestidinho de praia, mostra as perninhas finas, esquece a bicicleta e pula no rio. Ela fica esperando, porque logo chegaria o papai pra ensinar mais uma posição de natação. Ela adora nadar com ele.

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