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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Plantão

Tive de trabalhar durante um tarde fria e chuvosa. Ficar de plantão ao telefone, quebrar um galho a beneficio de todos. Coisa pouca e simples. Pelo menos em tese. Quando cheguei ao trabalho, resoluto em minha função, descobri-me completamente sozinho, acompanhado apenas de um computador temperamental e uma biblioteca cheia de livros vazios e algumas pérolas. Andei por entre seus ínfimos corredores, como um rato procurando pelo queijo. Kafka, já lera; Veríssimo também, Sidney Sheldon, não mais; e encontrei-me com Woody Allen. Mergulhei em seus contos filosóficos e satíricos, devorando-o simplesmente. As páginas encontraram seu fim e, logo, voltei ao começo.

O telefone não tocava, a chuva fustigava e o frio aumentava. Incrível plantão. Sentei-me no computador para trabalhar, mas o documento, começado dias antes com muito labor, não andava. O conflituoso computador não queria saber de coisas sérias. Desisti, enchi minha caneca de café rançoso e depois de muito matutar, me entreguei àquele ócio primoroso que me leva a escrever minhas linhas estúpidas e vazias. E cá estou eu.

Quando estou nessas situações penso em Ruben Braga. O mestre do cotidiano brasileiro estaria escrevendo o que agora? Linhas cheias de amor, com pássaros, cajueiros, borboletas e sua velha Itapemirim. De amor, falo em linhas particulares com endereço fixo. Cajueiros, nunca mais os vi. Borboletas são assunto para um flaneur no meu velho Parque do Córrego. Sem conhecer Itapemirim, resta-me Florianópolis. Mas o que dizer dessa cidade linda em um dia de chuva? Só penso no trânsito de quando eu voltar, nos problemas de funcionários públicos e na hora que caminha lentamente.

Acho que estou ouvindo o telefone tocar. Vou atendê-lo. Depois procuro por Woody novamente. Ele não deve ficar sozinho aqui com esses livros...

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