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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Confiar em quem?

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Hoje li uma coluna de jornal em que o autor considerava “Varsóvia” e outra palavra semelhante como proparoxítona. Um pequeno erro. Está bem, não foi um pequeno erro, principalmente porque a crônica era uma homenagem apaixonada às proparoxítonas. Citando até a construção de Chico Buarque em certa música, que flutua no ar como se fosse pássaro, escrita como se fosse a última e com os passos tímidos de um bêbado.

Apontando o erro, após ler o texto, a professora de português exclamou em forma de pergunta: “Vamos confiar em quem se nem nos cronistas conseguimos?”

É professora, não podemos exigir muito dos cronistas. Se até de Rubem Braga reclamavam! Em uma de suas magistrais crônicas aponta que “de vez em quando um leitor culto se irrita comigo e me manda um recorte de crônica anotado, apontando erros de Português” e que “confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido”. Realmente, a maioria – em dados levantados por mim, sem pesquisa alguma - dos cronistas escreve de ouvido. Sou um deles, inclusive. Olhe meu boletim de português do ensino médio...

A crônica é o texto mais fluído, mais simples, mais gostoso de ser feito. Ora, que outro texto pode-se escrever sem qualquer assunto? De puro e simples ócio? Ninguém precisa de mais inspiração que o poeta. O romancista de tempo para criar um enredo envolvente. O contista precisa criar um personagem, por mais simples que seja. Já o cronista pode falar que o tempo está chuvoso, que o rouxinol canta ao luar, que um nadador cruza a praia ou até sobre sua aula de inglês.

Ah, mas Machado de Assis era um ótimo cronista! Sem dúvida. Mas nessa época distinta, poucos tinham um blog e o tempo ocioso necessário para se aventurar nas crônicas. Se possuía o tempo ocioso, gastava-o em jogos, botequins ou prosas tolas. E nada mais tolo que flanar pela cidade. Flanar, quase o mesmo que perambular sem rumo, atento ao cotidiano fatigante e curioso, criou outro cronista da época de Machado. Seu nome era João e morava no Rio. E divagando dessa maneira se cria uma crônica…

Cronistas constroem seus textos pelo som, pelo bonito ao ouvido, como aquele rouxinol ao luar. Ou apenas escrevem para passar pelo tempo chuvoso. Ou por preguiça de nadar na praia. Ou porque não querem aprender outro idioma. A gramática fica para quem lê-lo. Nas primeiras crônicas que fiz, esperava meus amigos apontarem os erros. Cronistas não sabem corrigir-se!

Não podemos confiar nos cronistas, pois nem eles confiam no que escrevem… apenas escrevem… Quer ser levado a sério? Escreva um romance ou um soneto. Quer brincar de conhecedor da psique humana? Escreva um conto. Quer apenas escrever? Eis a crônica!

Mas o melhor de tudo na crônica, é que você pode terminá-la sem um fim digno de conto ou romance, nem com as rimas calculadas do soneto. É só um ponto final.

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