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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O rouxinol, a rosa e Wilde

 
Oscar Wilde
 

"Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas", exclamou o jovem Estudante, "mas em todo o meu jardim não há nenhuma rosa vermelha."
Do seu ninho no alto da azinheira, o Rouxinol o ouviu, e olhou por entre as folhas, e ficou a pensar.
"Não há nenhuma rosa vermelha em todo o meu jardim!", exclamou ele, e seus lindos olhos encheram-se de lágrimas. "Ah, nossa felicidade depende de coisas tão pequenas! Já li tudo que escreveram os sábios, conheço todos os segredos da filosofia, e no entanto por falta de uma rosa vermelha minha vida infeliz."
"Finalmente, eis um que ama de verdade", disse o Rouxinol. "Noite após noite eu o tenho cantado, muito embora não o conhecesse: noite após noite tenho contado sua história para as estrelas, e eis que agora o vejo. Seus cabelos são escuros como a flor do jacinto, e seus lábios são vermelhos como a rosa de seu desejo; porém a paixão transformou-lhe o rosto em marfim pálido, e a cravou-lhe na fronte sua marca."

Oscar Wilde, O rouxinol e a rosa. (Leia o conto completo aqui.)

Oscar Wilde foi um marco na literatura inglesa. Um dos mais importantes escritores do Reino Unido da segunda metade do século XIX. Apesar de pertencer a escola Estética Inglesa, semelhante ao Romantismo brasileiro, Oscar Wilde rompeu com a “futilidade” - muitas aspas aqui - desse movimento.

O Esteticismo que reinou no século XIX inglês, e tomou conta da escultura, pintura e literatura, pregava que não era arte que deveria imitar a vida, mas o contrário, a vida imitar a arte. A arte seria perfeita, enquanto a natureza não consegue chegar ao perfeito. Apesar dos fortes traços estéticos na obra de Wilde, herança de seu mentor, John Ruskin – grande mecenas da época, que também financiou os Pré-Rafaelitas - suas histórias não eram apenas belas; possuíam, porém, uma forte crítica aos valores sociais, religiosos e amorosos de seus contemporâneos, principalmente em seus anos finais:

“Com a abolição da propriedade privada, então, nós teremos verdadeiro, lindo, saudável, Individualismo. Ninguém desperdiçará sua vida em acumular coisas, e símbolos destas. Um viverá. Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas existe, isso é tudo.” (Tradução livre de The Soul of a Man Under Socialism)

 
Oscar Wilde é uma leitura agradável, crítica, bela e interessantíssima para um fim de semana, ou o respiro entre os textos pesados da faculdade.

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