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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Abismo

                Você já se deparou com o abismo? Olhou para baixo, sem conseguir ver seu fundo, e teve vontade de pular? Não por motivos suicidas, para acabar com sua pobre existência, mas pela simples, e fútil, curiosidade de saber o que existe no  seu fundo.

                Ao ver as cinzas planando levemente pela noite, em direção ao chão, tive a vontade de acompanhá-las. Subir no parapeito, sentar, tomar o último ar e me soltar, só pela emoção, pelo prazer de sentir o vento no meu rosto e o medo do chão que se aproxima. Talvez para descobrir o que acontece depois. Seria um vazio eterno, reencarnaria na Índia, encontraria Deus/Alá/Jeová, ou vagaria eternamente pelo mundo dos vivos?

                No lado do tragicômico, ouviria os gritos desesperados da voz incrédula de uma mulher junto à música lenta, os quais iriam se distanciando rapidamente. Talvez não tão rapidamente. Nessas experiências, dizem que o tempo pára por alguns momentos e então os ponteiros começam a se mover lentamente. Nunca encontrei um morto para me confirmar essa informação. Nas minhas “experiências de quase morte” tudo aconteceu na velocidade normal, nenhum carro em slow motion ou berros em baixa freqüência. Só aquela descarga de adrenalina e endorfinas, aquele susto sobreposto pelo prazer, o frio na barriga e as pernas bambas, as pupilas dilatadas e o suor frio, todos seguidos pela minha gargalhada sarcástica.

                Por isso, quando me deparo com o abismo, sinto essa vontade. Repito, não sou suicida. Morrer deve ser muito chato, uma burocracia celestial (ou infernal) para decidir qual o futuro a seguir. Até porque, quando olhar novamente para o abismo sem conseguir ver seu fundo, eu faria tudo novamente. Um ciclo vicioso aparentemente sem fim. Mas a vida é assim também, não?     

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