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terça-feira, 16 de junho de 2009

Mais um sonho

Depois de uma tarde ociosa, tirou o atraso dos livros que tanto queria ler. Página, olho por cima do livro, dedo na língua, página. Cansada da solidão e da visita regular dos mesmos, queria ficar um pouco sozinha. Já era autosuficiente e sentia-se feliz aconchegada no sofá com dois cobertores. O pijama rosa bebê, que havia ganhado da sua mãe no inverno de 2005 - o mais frio de todos - continuava muito útil. Alguns passos até a cozinha, lendo e caminhando, foi servir o café e, sem nunca imaginar, tocou a campainha."Que saco, quem será?" Quando me sinto sozinha ninguém toca por aqui." As opções eram poucas: ela havia matado o trabalho de sexta-feira e o namorado estava na faculdade - o relacionamento já era broxa o suficiente para não acreditar qualquer surpresa. Sem o olho mágico tudo fica difícil. Perguntou "Quem é?" Sem resposta. "Quem é?" De novo. Deitou-se para olhar por debaixo da porta e ver uma sombra. Dois sapatos surrados. "De quem serão esses sapatos?!" Falou "Já vi os seus sapatos, diga quem és!". Por um segundo imaginou que poderia ser o porteiro surdo. Não, não. E o tarado da construção?! É, melhor não abrir. Ligou para o João, o namorado, e disse "amor, amor, tem um homem na minha porta, o que eu faço?" "Querida, abre e descobre, lembra do meu taco de beisebol na sua prateleira". Ok. "Pelo menos para isso ele servia." Caminhou sem fazer barulho até seu quarto, arrastou uma cadeira, também em silêncio, e foi até a porta. Abriu.

No mesmo instante começou a chorar. Colocou as mãos atrás do pescoço de sua inesperada visita e deu-lhe um beijo na testa. Quantos anos sem aquele rosto, carinho e cheiro tão familiar. Foi como se nunca houvessem se separado, o amava do mesmo jeito. Ele diz "Voltei para cuidar de ti, senti muitas saudades." Contaria que está namorando? Que havia trocado de faculdade? E o tempo de distância entre eles? "Esquece, logo teremos as mesmas conversas, afinal, ninguém é tão eu quanto ele." Conseguiu recuperar o fôlego e convidou-o à casa. Retirou rapidamente os cobertores do sofá e, sem convite, ele sentou. "Vou fazer um chimarrão para nós, como sempre fizemos, desde quando eu era uma criança, senti tanto a sua falta, meu pai."

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