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sábado, 26 de setembro de 2009

Não é ficção, linda.

Levantava escutando Roberto Carlos só por lembrar o Brasil. A rotina era menos apegada com frescuras femininas, amizades superficiais e cheiros novos pra saciar a falta de novidade. Vinte minutos sentindo o quentinho da cama e aquela sensação de mil graus negativos do pescoço pra cima. Com uma mexida geral, tirava o cobertor, corria até o banheiro sentindo o chão frio, e “estava a gritar”: alguém em caaaaaaasa? Não tirava a charmosa camiseta/ vestido por quem viria depois, escovava os dentes pensando “sim, não tem ninguém em casa, sim, sim, sim, sim...”. Cafézinho. E então ouve o barulho do elevador e atravessa o apartamento do banheiro até a porta em segundos.

- Pra onde vamos hoje? - Eu decido?, sou péssima nisso, você sabe. - Mas como eu vou decidir, a extrangeira é você. - Mas quem conhece os lugares é você. - Decidimos na neve.

Já em casa, custo a encontrar alguém tão meu. O ventinho gelado pela fresta da sua janela, o carinho na nuca e o segredo de saber pra onde ele estava me levando. Saio com um conquistador, um maníaco-depressivo, dois nerds e aquele ex-namorado bundão, lógico que loucamente apaixonado pelo fato de não ser mais dele. Todos não sabem demonstrar o que sentem com um gesto. Erro todo meu. Sempre buscando a liberdade daqueles momentos, quando ele tirava minha blusa e eu nem notava. É o total desprendimento de expressão, onde podíamos ficar juntos o quando fosse necessário. E tudo começava na corrida até a porta atravessando o apartamento, pulando e grudando meu quadril no seu, com as duas pernas na sua cintura. E isso não é ficção.

"Na sua varanda sem céu, certa vez, você se sentou naquela cadeira sem fundo. Me colocou no seu colo e me deu o abraço que disparava corações em mim como se eu tivesse um em cada nó de veia. E me disse, com sua voz tão bonita, a mais bonita que eu já ouvi, que eu tinha subido todos os seus andares. Eu entendi que você era o homem da cobertura de aço e eu uma espécie rara de passarinho que tinha algum tipo de chave que se autodestruiria em poucos segundos. E eu entendi também que agora que tinha chegado ali, só me restava pular, já que ninguém aguenta o alto tão alto muito tempo."

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