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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Olhos

Tenho um sentimento não patriótico quando falamos de mulher. A preferência nacional, não é segredo, são as bundas, as divinas bundas tupiniquins. Como todo brasileiro, não nego, reverencio as ancas nacionais, belas formas esculpidas pelos flertes europeu-africanos em quinhentos anos de convivência. Mas a primeira coisa que admiro nessas elegantes criaturas são os olhos. Lindos olhos, azuis, verdes, mel, castanhos, com seus raios únicos de cores amareladas ou escuras, dando vida à monótona monocroma pupilar.

Ainda lembro-me dos olhos de muitas, que há muito não vejo. Os olhos verde-água perdidos em outra cidade, que me exigiam paciência, mas recompensavam com uma das maiores amizades que já tive. Os que sentavam à minha frente no terceiro ano; azuis-claros lindos, perfeitos, como uma lagoa em dia de calmaria. Pouco me importava a dona, nada tínhamos em comum, pero seus olhos traziam uma sensação diferente de beleza, gravada em minha memória. Outra tem olhos negros, que parecem tentar camuflar o ímpeto que está escondido por dentro numa doçura magnífica, fazendo com que eu não consiga parar de fitá-los.

A primeira vez que não me senti sozinho nessa fixação foi ao ler Dom Casmurro. Os famosos olhos de ressaca de Capitu, olhar que “trazia não sei que fluído misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.” Esses orbes malditos que me prendem num estranho êxtase, num fascínio perigoso. Amo-os, mas os odeio. A parte mais bela da face feminina, por vezes a única, criados por Deus, corrompidos pelo Diabo e muita vez mais perigosos que suas bocas. Janelas embriagantes da alma, oásis perdidos ou miragens, os divinos olhos tupiniquins.

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