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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Serrana – Parte II

(parte I)

Revólver Smith & Wesson de prataEm um bolicho, o sargento Rubião, com seu vasto bigode negro como carvão, uniforme cáqui e cabelo à escovinha, sentou-se a mesa com João Pardal.

“Boa tarde.” Disse o sargento com a voz mais séria possível. João levantou os olhos por baixo do chapéu e meneou a cabeça.

“Que desejas, senhor sargento?”

“Eu tenho um serviço pro senhor, João Pardal.” As duas últimas palavras saíram como um nó sendo desfeito. Os olhos vincados do sargento piscavam nervosos, mas não exprimiam medo.

“Mas um homem da sua posição precisa de mim, sargento? Olha... pensava que o senhor não se metia com essas coisas.”

Claro que o diálogo estava na verdade cheio de sotaques interioranos, discordâncias, e gírias, mas a fala serrana não é o meu forte.

“Preciso que você cuide de um homem. Só mato bandido, mas esse diabo não infringiu lei alguma... então...” Rubião alisou o bigode com a palma da mão. “Tirando as leis do divino matrimônio...”

“Abra seu coração, senhor sargento. Ô Seu Pedroso, vê duas canha pra mim e meu amigo.” João botou um palheiro na boca e o acendeu com um palito de fósforo.

“O marido da minha filha tá saindo com outra mulher.” Com a fumaça do palheiro, o sargento puxou um cigarro e o acendeu com um isqueiro. Rubião não gostava de se demorar em conversas. “Obrigado Seu Perdoso. Como eu ia dizendo, o marido da minha caçula tá saindo com outra mulher. Quero que tu dê um jeito nele.”

João virou seu martelo de cachaça e o bateu na mesa. “Sabe que serviço pra militar é mais caro, né, Seu Rubião.”

“Pago o preço que tu pedires.”

Os dentes amarelados, que ainda restavam na boca de João Pardal se mostraram.

“Então já sei. Eu quero um schimitão de prata.”

Assustado, o sargento parou com o martelinho nos lábios.

Rubião empalideceu. “Mas onde eu vou arranjar isso, João? Tá louco? Um revólver de prata?” Mas o sargento sabia muito bem onde conseguiria a arma.

“Olha sargento, o único que eu conheço tem dono. É do Novembrino, tenho certeza que você conhece ele.”

Rubião, inquieto, tomou a cachaça. Também bateu o copo na mesa.

“Isso que tu pede é duro, Pardal... Me dê um dia para pensar.”

O sargento jogou algumas moedas na mesa para pagar a cachaça, levantou-se, e foi embora. Um revolver de prata? Mas que homem louco esse João Pardal. E o único revólver desses que já vira era o de Novembrino. Com aquele homem não se mexe... João Pardal, apesar de tudo, era pelo menos acessível, Novembrino era um potro xucro. Em que diabos aquele babaca do marido da sua filha metera ele, um sargento da polícia... Mas sua filha valia tudo. No fim da noite, tomando um mate na varanda, Rubião decidiu que conseguiria o revólver para João Pardal. Encontraram-se no mesmo bolicho e confirmaram o acerto.

***

Continua…

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