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quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Poste

Poucos carros passavam na rua. Mesmo sendo o centro da cidade, a estas horas apenas alguns se atreviam a perambular por ali. O medo de ser assaltado, seqüestrado, ou qualquer paranóia moderna assolava a maioria das pessoas, mas isso não impedia alguns bêbados ou jovens que voltavam, ou iam, a festas de passar por ali. As árvores balançavam sincronizadas no frio vento sul, que castigava os mendigos, os quais buscavam qualquer canto para se proteger.

Iluminada pela luz, embaixo de um poste, uma jovem estava parada. Tremia de frio por causa da pouca roupa que tinha de usar para o trabalho. Os braços cruzados se esfregavam para tentar aquecer o corpo. Castigada pelo vento, olhava de um lado para o outro esperando algum carro passar. E quando passava, mostrava-se, fazia poses, tudo para chamar a atenção. Ninguém parava. Estava sozinha, nenhuma de suas companheiras estava trabalhando hoje. Isto deixava a noite ainda mais solitária.

Descendo a rua vem um carro. Ela começa o seu ritual. Funciona, o carro para. A jovem anda até a janela do carro, se debruça e começa a conversar. Os cabelos negros caem sobre o rosto, mas ela os coloca atrás da orelha com um movimento preciso, revelando seus profundos olhos azuis. Mas algo dá errado, e o carro dispara. A moça, desolada, volta para seu lugar embaixo do poste. O mesmo poste da primeira vez que trabalhou ali, o mesmo poste de toda noite, o mesmo poste de dois anos atrás. Lembra do primeiro cliente, da insegurança, do medo de algo acontecer e do apoio das colegas de profissão. Lembra do motivo que a fez entrar nessa vida: a falta de educação decente, oportunidade, dignidade. Sente vontade de gritar, sair dali, mas não pode, precisa disso para sobreviver.

Outro carro passa, ela começa novamente. O carro pára. Ela faz o mesmo ritual, mas desta fez funciona, entra no carro e deixa a rua para trás. Mas não interessa, amanhã ela estará de volta, à mesma rua, ao mesmo poste.

Um comentário:

stefanny m. disse...

nao é legal ficar falando da vida secreta da cecilia assim troll...