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sábado, 4 de abril de 2009

Quando você não deve atender a porta.

Toca a campainha. Senti o último rastro de esperança em salvar nosso relacionamento. Sempre quis conversar, contar sobre a minha semana, minhas discussões na agência, cozinhar alguma coisa gostosa para nós. O problema é que nossa relação nunca chegou a tal fio de profundidade. Conto para meus amigos que, quando nos encontramos, só exige-se sexo, sexo e sexo.

- Estranho, estranho... Geralmente não acontece isso. Como alguém pode querer só sexo. Como pode?

Convido para arrumarmos nosso ninho de amor, nossa vida. Nada do que eu quero e digo parece satisfazer o meu oposto. Olho para o que abre minhas manhãs e imploro por um pensamento sobre o futuro, mas só vejo que não podemos continuar tão superficiais.

- Você não sabe o quanto eu gosto de você.

- O quanto, amor?

- O suficiente para sentir muita atração por ti.

-Então, por que você me traí?

- Porque acabei um relacionamento, entenda-me, eu gosto de você, só é muita carga para mim agora.

- Espera, deixa eu traduzir, você não quer ficar só comigo.

- Não, amor, só não quero casar contigo agora, somos tão novos.

Fazemos um sexo quase magnético. As roupas que estavam no chão já estão no corpo que eu tanto quero, andando por aí, cruzando outros olhares. Isso chama-se sedução. Pura e só. O problema é diferenciar, saber até onde quero ir, até onde devo pesquisar.

- Chega! Não sou um pedaço seu.

- Não é mesmo, você é um corpo meu.

- Como você me trata assim, eu lavo suas roupas do escritório!

- Obrigada, mas nunca pedi isso.

- Eu faço porque te amo, você não vê? E continua me traindo, saindo por aí com qualquer pessoa.

- Traindo? Nunca. Você está criando minhocas.

- Criando minhocas? Eu tenho provas, senti o perfume na sua camisa.

- Tá bem, amor, você me pegou, mas você me fez fazer isso.

Cheguei ao ponto X. O momento em que ninguém nota, mas é onde prefere-se ser um solteiro beberrão temporário à ser um eterno borra-botas iludido. As duas saídas estão claras para quem assiste à uma discussão clássica como esta, para quem vê além da cena.

- Cansei, sempre converso com os caras do futebol, você não é normal.

- Amor, eu sou a mulher do novo século, você não entende, você que é machista.

- Eu quero casar contigo, fazer filhos contigo.

- Desculpa, Sérgio, isso é muito pra mim.


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