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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cadelinha

cocker

Sentei no banco daquela praça miúda de uma cidade, também miúda, do interior. O tempo nublado, abafado, com golfadas abafadas de vento jogando meu cabelo para cima da barba. Eu não queria me referir a palavra “ócio”, mas aquele era um exemplo de dia ocioso. Sábado morto, como o clima naquela tarde, numa cidade que também parecia morta. A única alma viva na pequena praça era eu, mesmo letárgica de calor.

Em um sopro fresco apareceu ela caminhando. Ah, ela, com um vestido solto, como os que as mulheres daqui usam na praia. Ela, com suas pernas passeando, bailando junto com a saia solta. Ela, com sua cadelinha encoleirada. Não dava de saber se quem estava sendo levada para passear era Ela ou a cadelinha.

Puxando uma mecha fugaz para detrás das orelhas, se ajoelhou e soltou a cadelinha preta. Anjo que era Ela. Caminhou com a cachorrinha, de um lado para o outro, de gramado em gramado. Cansada do caminhar abafado, Ela sentou-se em um banco, quase distante de mim. Mas a cadelinha não cessava de seu andar com o nariz colado ao chão.

Sentada, pegou da bolsa de pano um cigarro e começou a fumar, delicadamente, segurando o vestido que tremulava e subia com o vento. Ah, como era Ela...

Despertei-me das pernas, mechas e vestido quando a cadelinha resolveu sentar-se ao meu lado no banco, cheirando minha mão. Ela me olhou sorrindo.

Obrigado, cadelinha.

Afaguei-a e a cadelinha deitou sua cabeça em minha perna.

Te adoro, cadelinha.

E Ela, sorria mais. E eu afagava com cada vez mais carinho a cadelinha.

Te amo, cadelinha.

Ela se levantou e veio em minha direção, com o cigarro pousado entre os dedos eretos.

Colocou a guia na cadelinha, despediu-se com um sorriso e foi embora.

Adeus pernas, adeus cadelinha...

Porque sou tão tímido?

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