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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Confiança

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Um grande amigo chegou completamente bêbado à casa de praia em que alugávamos. Eram férias de inverno, ninguém tinha nada para fazer em suas casas, todas eram pequenas e não queríamos passar todas as noites em bares caros da cidade. Então, alugamos uma casa no Pântano do Sul, e, como era baixa temporada, o preço saiu baixo. Muito baixo.

Éramos três casais. Todos com aqueles péssimos hábitos que sua mãe pode chamar de más influências. Mas, em um dia, um dos membros masculinos tinha uma festa do trabalho para frequentar. Enquanto sua mulher foi ler, eu e minha, combinamos cerveja com medicamentos e o outro casal foi dormir para curar a ressaca. Esse membro masculino em festa laboral chamava-se, vamos supor, Ivan. Sim, Ivan. Como estou lendo Gogol, e li sobre Dostoievski faz pouco tempo, chamá-lo-ei de Ivan. Melhor que Vassili ou Ludjin.

Bem, Ivan foi festar com o pessoal do seu trabalho. Saiu as dez da matina. Eram onze horas quando ele voltou. Onze da noite, claro. Completamente bêbado. Mal conseguia estacionar o carro. O zíper aberto, bermudas mijadas, óculos de sol sem uma lente, baseado apagado na boca e sem conseguir ficar de pé. E ele estava de carro.

Sua mulher mal saiu da cama para recebê-lo, sabia, pois, o estado de seu homem.

De qualquer modo, quando ele viu no relógio que eram onze horas ficou horrorizado.

“Meu Deus! Onze ainda? Achei que eram três ou quatro horas! Vou tomar um banho e me sair pra zoeira de novo!” Claro que tudo era mais pastoso e babado em seu falar original.

“Vai dormir, cara, estás completamente ferrado!” Respondi também meio baleado, mas longe do estado em que Ivan encontrava-se.

“Não! Não estou com sono e quero mais zoeira!” E subiu, cambaleante, como uma criança mimada, as escadas direto ao banheiro.

Não tive outra coisa a fazer. Não ia conseguir segurá-lo. A ideia de ele, completamente alucinado, dirigindo pela madrugada me dava arrepios. Não queria perder meu amigo. Tive que buscar o auxílio da sua mulher – que chamarei de Sônia pelos mesmos motivos anteriores.

“Sônia, o Ivan está completamente alucinado, dá uma mão que ele quer sair de novo.”

“Ele sempre está alucinado.”

“Não como hoje.” E descrevi o estado de sua alma gêmea.

Ela levantou-se e foi falar com ele. Para encurtar o relato, a discussão foi longa e alta. Por fim, ele não saiu. Ficou em casa curando a bebedeira deitado na cama.

E eu não consegui dormir. Entreguei um amigo para a mulher, mesmo para fazer a coisa certa. Não é? Trair a confiança de amigo tem desculpa? Alguém me ajuda nessa?

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