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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

The Bucket List

Dois homens com câncer terminal decidem viajar pelo mundo juntos, realizando os últimos desejos de suas vidas. Dirigido por Rob Reiner (Questão de Honra) e com Jack Nicholson, Morgan Freeman e Sean Hayes no elenco.

As luzes da cidade passam rápido pela minha janela enquanto dirijo em velocidade moderada meu carro novo: um Toyota Fielder automático, adquirido no mês passado. Estou chegando de mais um dia de trabalho produtivo como diretor-geral de uma grande companhia especializada em TI com sede no Vale do Silíco, na Califórnia. No meu iPhone, havia algumas mensagens de textos ainda não lidas de uma linda mulher que beijei no feriado passado, em uma festa particular pela Baía Norte no iate de alguns clientes da empresa.

Na esquina do prédio onde moro, na Avenida Jornalista Rubens de Arruda Ramos, passo por algumas garotas de não mais que vinte anos de idade, elas me parecem como modelos indo desfilar na boate que fica ao lado do meu prédio, com a mesma melancolia no olhar disfarçado pelas maquiagens caras e o branqueamento nos dentes. As garotas reparam em mim, ou no meu carro, ou em ambos; não me importo.

Na entrada da garagem, meu iPhone acende e interrompe a música da banda Diablo Swing Orchestra que tocava em alto volume no sistema de som potente. Eu atendo com o Bluetooth da Fielder: era um rapaz que estava também no passeio de iate, me convidando para um camarote na boate ao lado, de onde saem garotos bêbados às três da manhã que empesteiam o jardim externo do meu prédio urinando sem o menor pudor – Não, obrigado. Já disse em alguma reunião de condomínio que deveríamos tirar fotos noturnas dos nossos mais frequentes “mijadores” e expô-las numa exposição pública em frente à boate; cacife pra isso nós temos.

Passo ao elevador, o porteiro me cumprimenta ao longe, respondo com um leve movimento de cabeça. Pressiono o botão de número 12, sou o único morador do condomínio que vai até este andar. O elevador se abre e o corredor já faz parte do meu apartamento, com peças da última exposição Casanova – elas estão a cada ano mais medíocres – penso ao destrancar a porta dupla do apartamento. Lá de cima, pelo uso excessivo de vidros constantemente limpos em razão da maresia do mar a frente, consigo observar praticamente todo o bairro. No meu nível eu conto apenas mais um ou dois apartamentos de prédios à direita.

Sincronizo meu iPhone ao sistema de som do apartamento, rapidamente todo o aambiente se enche com “Memoirs of a Roadkill”, da mesma banda que escutava ao ser interrompido pelo interesseiro. Acabo de abrir a garrafa do whisky 20 anos que eu ganhei ao ser promovido na empresa. Nunca gostei desses destilados, mas esta noite é especial.

Desde criança tracei planos para meu futuro, quando li a história de Paulo Coelho, que já aos 7 anos o prodígio projetava meios de “como ser o melhor escritor do mundo”, identifiquei-me prontamente. Na minha lista o último item sempre foi: Morte. O checklist já estava completo, só sobrara a derradeira. Portanto, nada mais natural que, em toda uma vida baseada em planejamento e execução, eu atinga mais essa meta. Isso mesmo, meta: morrer.

Ah, o vento no rosto, esse cheiro de maresia de que sempre gostei, o céu é realmente maravilhoso aqui de cima. O copo do destilado já está no fim, lá embaixo eu vejo pessoas basicamente uniformizadas entrando na fábrica das fantasias – será que eles não cansam de realizar a mesma tarefa mecânica de todos os dias?

Caio.

Ao menos essa noite não haverá aqueles mijões no jardim do prédio.

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