Páginas

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A tal da perseguição.

Como eu prometi, aqui está o tal do Flâneur. Não ficou lá grande coisa. E eu não tô querendo ser modesta.

Sentei no ônibus tentando lembrar que é melhor não parecer uma perseguição, um trabalho para a faculdade ou uma obrigação. Morar perto da faculdade criou a rotina de ir aos lugares à pé, e bateu uma saudade da época do ônibus. O UFSC semi-direto não tinha a molinha dessa vez, e pela cara que fez a menina ao entrar, era a exatamente a sanfoninha que estava procurando. Como se fosse uma surpresa, ela esperou encontrar a sanfona dentro do ônibus, sem saber que a mola já pode ser vista do lado de fora. A garotinha de seis, sete, ou talvez oito anos – sou péssima em decifrar a idade das pessoas – estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo quase tão alto quanto o da xuxa e dois tic-tacs cor-de-rosa ao lado da cabeça, segurando os fiozinhos soltos. Ela tinha a sombrancelha rala, recompensada pelos olhos azuis e grandes, provavelmente vindos do pai, já que a mãe, que a acompanhava, tinha os olhos escuros.
Estava chovendo, e mesmo assim a garotinha estava com os tênis limpinhos, prova que a mãe a carregou no colo, assim como fazia coma mochila da Moranguinho que tinha a etiqueta com o nome Rafaela. Sentaram-se na terceira fila à esquerda após o cobrador e em silêncio. A mãe esperou a menina se sentar em frente à janela, que logo se apoiou e olhou o movimento. Ao chegar, a mãe levantou com um sorriso para a menina, que ajeitou o vestidinho estampado com com pequenas ondinhas cor-de-rosa, combinando com os grampos. Estavam no Centro do comércio, e era sexta-feira, véspera de feriado de dia das crianças.

Desceram do ônibus de mãos dadas, a mãe carregava a bolsa, um guarda-chuva, uma jaqueta preta e um casaquinho violeta. A menina agora estava com a mochila ocupando metade do seu tamanho. A mãe caminhava devagarzinho pra compensar os passos curtos da companheira, que não parecia empolgada com o lugar, estava mais preocupada em pisar nas bolinhas do caminho para os cegos. Pararam em uma quitanda do terminal integrado do centro e pediram um cartão para celular, que a mãe guardou na bolsa. Atravessaram a catraca, onde a menina foi erguida ao passar, esperaram a contagem regressiva do semáforo entre o TICEN e o camelô, atravessaram e rua e a via que separa os ônibus da gritaria do mercado.
Elas chegaram ao zigue-zague do camelô e caminharam entre as estandes. Primeiro, no box com bolsas, óculos, relógios, lenços e ursos de pelúcia viram um desses animais de pelúcia, um grande e azul, que não consegui decifrar se era um animal, um et ou uma pessoa. A cara de animação da mãe, que já devia ter pesquisado o preço, era menor do que a da filha, que curiosamente não gritou pelo presente. Pararam em um segundo box idêntico e em mais três, viram bolas de futebol, quebra-cabeças e mais ursos. A reação era sempre a mesma: ou a mãe se empolgava e tentava convencer a filha, ou a filha se empolgada e nem sequer tentava convencer. Entraram no novo camelô, aquele dentro do mercado público, e passaram por toda a parte de calçados, até chegar a uma loja de brinquedos. A mãe não andava mais tão pausadamente e a menina tinha que dar três passos para alcançá-la. Ali estava. Uma Lilo bem grande, a personagem havaiana do desenho da Disney. A menina gostou, o bolso da mamãe também, pelos sorrisos estampados.

Nenhum comentário: